sábado, 23 de agosto de 2025

#286 – O Torto – 17/07/2025

Presentes: Adolfo, Bráulio, Cabeça, Cid, Pedro-san, Tanaka
Sugestão: Adolfo
Quando lá, comer: empadinha

O Torto, clássico bar de Curitiba, finalmente figurando neste brogue porcão. Se você é conhecido da boemia, sabe onde fica o Torto, mas explico aqui da mesma forma de sempre. O Torto fica no inferninho próximo ao Largo da Ordem, mas desconectado da muvuca em uma saudável e silenciosa quadra – rua Paula Gomes, na esquina a uma quadra da Trajano Reis. A Paula Gomes é a primeira paralela da Inácio Lustosa, via “rápida” que passa ao lado do Shopping Mueller no centro / São Francisco, e também paralela à 13 de maio, continuação da Martim Afonso rumo ao Teatro Guaíra. Na própria Paula Gomes tem lugar pra estacionar, mas é óbvio que não se recomenda beber e dirigir, e no Torto você vai beber. A central mais próxima de busão creio que seja na praça 19 de dezembro (homem nu), mas centro é centro e a noite é cheia de jóvis na região, convidativa à andação.

A famosa esquina no centrão!

Mas como assim, vocês só foram no Torto no encontro 286? Você pergunta, e eu te respondo, a gente tentou, essa é a quarta vez que tentamos vir. O Torto estava fechado nas três últimas tentativas (#97 em 2016, #115 em 2017 e #142 em 2018), implicando na nossa desistência por quase uma década – afinal, é um perrengue descobrir o bar fechado e pegar um segundo busão baldeado para ir pro boteco suplente. Não é incomum o bar ficar fechado em dias normais, e é compreensível, sendo um bar de um homem só - a ponto de terem criado ainda no pré-pandemia um grupo de Facebook chamado "O Torto tá aberto?", com contribuições quase diárias à epoca, escritas simplesmente "aberto" ou "fechado". Enfim, como dizem, homem esquece mas nunca perdoa, e a frustração dos impedimentos foi esquecida neste ano de 2025, a missão finalmente retornando frutos.
Conforme citado, o Torto é um grande clássico de Curitiba, apesar de ter nascido em 2002 – por ser tradicional imaginávamos que fosse bem mais antigo. Em 2002 o dono, seu Arlindo, conhecido como Magrão, comprou o bar da esquina e o transformou no santuário do Mané Garrincha. Notícias, fotos e quadros que cobrem todas as paredes celebram a tradição do bar e o próprio Garrincha, sendo a imagem mais famosa do bar a pintura do camisa 7 com asas atrás do balcão. O boteco é composto por um salão único e sua calçada. O salão é quase inteiramente tomado por uma mesa de sinuca centralizada, com algumas cadeiras e pequenas mesas ao redor, então a grande maioria das pessoas fica direto em pé na calçada, ou mesmo do outro lado da rua. Numa noite convencional sem chuva, em qualquer momento, tem pelo menos 40 pessoas consumindo do bar, só batendo papo ou jogando sinuca. A mesa de sinuca é bem disputada, por sinal, e tem um caderninho na mesa do canto com a fila pra jogar. Quem atende o balcão é o Arlindo, anteriormente citado, que tem cara de piazão apesar de ter passado os 50 anos – e ele fica ligado o tempo todo no 220VAC. Afinal, é ele sozinho contra as intempéries, fritando bolinho de carne, servindo birita e cobrando o povo, fora os eventos – sobre os quais vou discorrer ao final do post, este parágrafo está ficando grande. Boteco com história é assim. O tratamento é respeitoso e os pedidos vêm conforme possível, respeite os limites físicos do cidadão.

Visão externa do estabelecimento
O único salão, inteiramente tomado pela mesa de sinuca
Salão visto do outro lado
Pessoal esparramando pro outro lado da rua
Cardápio visual

Sendo o bar inteiramente tocado pelo Magrão, a variedade de comes é curta, e não queira drinks muito desenvolvidos porque falta braço para desenvolver. O que o pessoal costuma comer são os salgados da estufa – coisa bastante boa, empadinha de frango e palmito bem bons, e o bolinho de carne receita da vó do Magrão. Fora isso, rolmops, espetinho de salsicha e ovo de codorna em conserva e amendoim, sem comentários. De bebes, cervejas convencionais, uma boa seleção de biritas de boteco, batida de maracujá artesanal boa, nada muito alto nível assim, mas o que é oferecido atrai centenas de pessoas por noite, errado não pode estar. O preço é bem aceitável, mesmo porque não tem muito o que consumir ali – mas se você for com fome, a somatória de todas as empadinhas acumula no bolso.

A turminha no canto

Chegamos em horário saudável e nos sentamos na mesa do canto, lado a lado como no antigo busão Circular Centro, de frente para a mesa de sinuca. Nesta posição é impossível não assistir o pessoal jogando, e jogam muito bem! A gente ficou com vergonha de participar da rotação, com certeza ia tomar um couro – tinha uma única menina que estava arrasando todos os machos que a enfrentavam com jogadas espetaculares, tava pegando fogo – foram 9 partidas seguidas até alguém bater ela. Voltemeia a gente tem que desviar de uma tacada ou liberar a cadeira, porque o espaço é pequeno, prejudicando a proficiência de certas jogadas.
Apesar do desconforto, o ambiente é muito botecão, algo que deveras nos atrai. Mas o grande diferencial do Torto são os eventos, que se assemelham a um programa de auditório. Você está sentado ali tomando uma, ouvindo músicas brasileiras clássicas (por sinal, bom gosto), e de repente o seu Arlindo apaga a luz, sobe o volume da música, liga um globo estroboscópico e o boteco vira uma balada – o pessoal dança e se entretém enquanto o seu Arlindo frita bolinho (literalmente), e após uma música, axé ou baião, a luz volta, o volume é reduzido e o clima de botecão é reinstaurado – muito engraçado pra quem vê a primeira vez. Depois de um tempo, seu Arlindo pega um bilboquê e um microfone, interrompe a música, e vai pro meio do bar – chama as pessoas mais bêbadas que encontra e faz uma gincana de acerte o buraco, ganhe uma cerveja. Pagação de mico total, o povo delira. Jogos de dados e adivinhação. É realmente um show no boteco.

Balada!
Acerte o buraco
Tente a sorte por uma bera!

Em resumo, o Torto é um botecão clássico e diferenciado por causa dos programas de auditório. Quem tem o objetivo de reunir os amigos numa mesa, comer uma parada e tomar uma, batendo papo sossegado, como nós, este NÃO é o boteco ideal – fica-se em pé ou senta-se num lugar apertado, a variedade de comes é pequena, seu papo é sempre interrompido... Agora, prum esquenta da noite ou pruma última rodada, o clima botecão é atraente demais, e pra quem busca um show ou algo diferente, é diversão certa. O Torto é um bar de conhecimento obrigatório para qualquer entusiasta de boteco de Curitiba.

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